Meus caros. Venho falar-vos acerca de uma das minhas teorias sociais. Vou começar por me apresentar. Sou um tipo pacato, meia idade, magrinho, nariz fino e comprido, pernas encurvadas, tronco disforme, entre outras características que não me favorecem muito. Chamo-me Adelino de Andrade e tenho 35 anos. Sou professor de um curso técnico relacionado com tecnologias de informação empresariais.
Depois das apresentações começo com a minha teoria acerca do café.
Consideremos que a sociedade é constituída por pessoas. Cada pessoa tem a sua vida privada. Cada pessoa conhece um conjunto de outras pessoas que também têm as suas vidas privadas. Estas pessoas podem estar ligadas? Podem! Vocês concordarão que sim e facilmente me darão infinitos exemplos de como as pessoas comunicam e interagem. A sociedade é então um emaranhado de pessoas e instituições publicas e privadas, conceitos, ideais, valores, culturas, códigos de conduta, sociais, morais, paradigmas e porque não: tecnologia... ok não vamos confundir o leitor amigo. Eu costumo, por analogia, considerar a sociedade como um grafo, em que cada nó corresponde a uma pessoa que se relaciona com outros nós. A sociedade é constituída por pessoas e elas conseguem construir múltiplas estruturas sociais e procedimentais que permitem a realimentação de uma sociedade do ponto de vista económico, disponibilizando bens, serviços, e relações de valor. Como devem compreender este grafo não para... Todos os dias se vendem e compram ideias e bens. Todos os dias se admitem e despedem pessoas de cargos de responsabilidade. Pergunta o leitor onde entra o café no meio de tudo isto? Devo começar por admitir que os constituintes primários de uma sociedade (pessoas) necessitam de sentir estímulos vários. O café é um artificio cultural óptimo para se promoverem relações entre pessoas: “...Manel chama o teu patrão para irmos beber um café e falarmos sobre a crise do médio oriente...”. Este tipo de comportamentos, exposto de forma caricata ou até mesmo um pouco exacerbada ou desajustada para com uma realidade do dia a dia, é um exemplo de como o café pode proporcionar momentos de sabor e aroma (sensações operacionais), e ao mesmo tempo desenvolver a componente social aos nós de um grafo dinâmico. Os nós carecem de estímulos. Necessitam de reforçar, rever e ajustar as suas ligações. Ao mesmo tempo existem contextos associados às ligações. O emaranhado de sensações e possibilidades sociais que ocorrem no café de um individuo são imensas. É importante compreender de forma racional esta problemática subjacente à sociedade. O café pode ser um espaço de troca de ideias, onde se promovem pontos de vista apoiados sob algum contexto racional. O café pode servir muito bem para construir projectos, encontrar soluções em grupo, compreender e conhecer mais as pessoas que nos rodeiam, descontrair e falar-mos de outros assuntos fora de um âmbito mais especifico. O café pode ser um pretexto para se ler um jornal, para se ver um pouco de televisão, para se compreender porque raio o vizinho do 3º esquerdo faz barulho à noite. Eu recordo o leitor que um dos maiores recursos dramáticos nos filmes de cinema está no diálogo entre as personagens. Estes diálogos são muitas vezes promovidos ao acompanhar de uma chávena de café num ambiente composto por pessoas que falam umas com as outras sobre os mais diversos assuntos. O café é o caminho para se construir o dia de hoje e o dia de amanhã. Sem este tipo de valores culturais como poderia uma sociedade crescer?
Deixo a questão ao leitor amigo. Espero encontrá-lo no café um dia destes.
