quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Faz-me espécie

Ultimamente tenho pensado com relativa profundidade psicológica numa questão que a exaustão me leva a admitir. A minha mãe provavelmente começaria com uma abordagem alusiva a uma expressão muito comum, "faz-me cá uma espécie". Como ser paradigmático que sou gosto de olhar as questões de diferentes pontos de vista e discuti-las convosco. Porque não? Escrevo-vos enquanto olho para o centro das minhas duvidas, quando olho para tudo aquilo que me tem preocupado. Olho para um copo vazio sujo de sumo de morango no fundo e nas bordas. O assunto remonta aos tempos em que eu tinha tempo para viver fora do trabalho. Houve um dia em que me deu vontade de beber um sumo de morango num copo. Sim, digo num copo porque muitas vezes bebo directamente da garrafa por razões que se prendem fundamentalmente pelo sentido pragmático. A partir desse dia até hoje já passaram 4 dias ou 5 e o copo ainda ali está longe do seu armário e dos outros copos amigos. Será que esta entidade sofre? Basicamente a questão que me preocupa é esta. Vivo atormentado por não ouvir a voz da minha mãe ao ouvido a dizer, "Não querido. O copo não está vivo". Vocês podem pensar que por o copo estar "morto" não há problemas. O copo não sente e não vê. É como se não existisse! Eu não penso assim. Eu olho para o fundo da minha secretária e vejo uma entidade esquecida, suja, ao abandono, onde, sinestesicamente, consigo cheirá-la a mofo e a podridão desintegrante.
Pelo sim pelo não vou lavá-lo e arrumá-lo no armário perdendo-se assim a questão pertinente que nos levaria à loucura muito provavelmente.