Atrevo pronunciar a tua ousada figura esbelta, imaculada e sincera na forma de olhar. De jeito próprio chamar-te-ei pérola negra. A forma singular e frágil que apresentas invade os meus dias não esquecendo por sinal as tuas formas redondas, femininas, quiçá de uma pureza natural. Para onde segues tu minha “jóia africana”? Trazes no olhar o orgulho da tua pele. Origens enraizadas que nem tu nem o tempo poderão algum dia esconder. Ganho a percepção que a tua presença encobre intimidades inatingíveis. Estarei a invadir-te com os meus olhares perturbantes? Admito em renúncia que para mim foste e continuaras a ser uma musa inspiradora. Trazes as calças de ganga rasgadas propositadamente, um pedaço de trapo claro cobre subtilmente o teu corpo escultural. Dou por mim na presença de uma clara manifestação de rebeldia. Surges-te em público pintando, num traço fino e discreto, os lábios de preto. Reparaste com certeza que observava o teu ar vaidoso e atrevido de esgueira enquanto seguravas de forma cirúrgica o teu pequeno espelho que te auxiliava.
Pronto! Fui-me embora… tinha invariavelmente de sair naquela estação. Resta-me a martirização inevitável e perpétua da dor por saber que, provavelmente, nunca mais nos iremos voltar a encontrar...